quarta-feira, 26 de outubro de 2011

térreo

abri a pesada porta de madeira e entrei. sem olhar muito e abusando da visão periférica procurei um espaço vazio, seguro e só meu onde poderia permanecer inerte por alguns segundos. esperando. ao longo de curtos segundos, fui me aventurando ao espaço e disfarçadamente espiava pelo canto dos olhos, no espaço perfeito e simétrico rosto-óculos. então entre aquele pequenino mar de rostos, encontrei-a ali, inerte também, com um olhar completamente vazio. não consigo pontuar com exatidão o que expressavam aqueles olhos, talvez preocupação, talvez apenas... fome. falo isso porque possivelmente eu esteja com fome. é cedo e havia pressa. ela ajeita sua bolsa, passa três dedos para consertar o cabelo que nem ao menos indicava qualquer milimétrico defeito perceptível ao meu olho bárbaro e cansado. ela dá um passo à frente e quando sinto, num solavanco, meu corpo mexer e a porta se abrir. era térreo. de novo.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

fazia frio

estavam parados. ela sentado esperando pela mesma coisa que o separava de um mesmo objetivo. inertes, ambos sentiam a respiração gelar já que essa, era outra daquelas estranhas manhãs de primavera que te fazem sair agasalhado de casa para voltar ao fim do dia com o casaco entre os braços. continuaram ali. talvez por uns poucos minutos que pareceram horas. e então, ela resolveu ir. partir com o primeiro que apareceu. era o que ela geralmente fazia. mas ele não. ele ficou e esperou para fazer a escolha certa.  mesmo que amargurado com a nova solidão e com a tristeza de ter que aceitar que seu ônibus ainda iria demorar para chegar. fazia frio.